quinta-feira, junho 21, 2007

Mudança


A partir de agora, podem encontrar-me em Ícaro.

sábado, junho 16, 2007

Final

Por razões internas, este post representa o fim deste projecto.

A todos os que nos visitaram, obrigado.

quinta-feira, junho 07, 2007

Release the Stars


Depois de uma carreira já com uma década de criação musical, da qual nasceram cinco álbuns, Rufus Wainwright traz-nos o seu mais recente projecto, que aspira também ser o seu melhor trabalho, não tivesse a sua herança musical o peso que tem (quer do seu pai Loudon Wainwright e da sua mãe Kate Wainwright, quer dos seus contemporâneos).

À semelhança do que já acontecera em Want One e Want Two, Rufus Wainwright soube jogar com a certeza de que é bastante melhor ao distanciar-se do pré-fabricado do que ao tentar imiscuir-se na banalidade das caixas registadoras. Do mesmo modo, a temática bipolar do cantor continua bastante presente neste álbum: oscila entre a dor amorosa e a opulência da estética que só a sua homossexualidade lhe permite. Aliás, não é muito difícil encontrar nesta homossexualidade toda a inspiração da sua criação artística, das suas letras e do seu jeito peculiar de fazer música diferente e alternativa.

Ainda assim, em Release the Stars, encontramos um Rufus Wainwright mais expandido a outras musicalidades, a outros instrumentos, a outros estilos e texturas, sempre com resultados muito próprios, muito individuais (que muito embora não se afastam do que já sabemos acerca dele), residindo aqui o seu trunfo indiscernível.

Como homem do espectáculo que é, não dispensa uma abertura em grande. Começa, então com Do I Disappoint You, uma faixa de inspiração mais oriental, com uma peculiar harmonização das cordas sobre uma letra interessante, como já Wainwright nos tem habituado. Abre-se, assim, a cortina para o primeiro single Going to a Town, uma música que facilmente fica no ouvido pela simplicidade dos acordes no piano, pela melodia triste e melancólica, e pela letra de rara sátira política e activista: “Do you really think you go to Hell for having loved?”. Expondo aqui alguma da sua revolta contra o cinismo e a homofobia americanas, Rufus consegue, sem se extinguir, a música mais marcante do disco.

Como já vem sendo hábito, as baladas de Wainwright também são indispensáveis de qualquer álbum. Toques gentis, arranjos lentos para cordas, uma expressão arrepiante muito bem conseguida estão presentes em Nobody’s Off the Hook (com algumas reminiscências da conhecida música Poses). Leaving for Paris no. 2 também consegue realçar uma música já conhecida, com uma nova leitura no piano.

E, do mesmo modo, como também já se sabe, Rufus Wainwright alcança melhores momentos quando escreve sobre romance, em vez de sexo: Between My Legs funciona bem, embora se note alguma plasticidade desnecessária no rodeio dado às guitarras. Já Tulsa, baseada no alegado affair do cantor com o vocalista dos The Killers (Brandon Flowers), é uma faixa poderosa, com uma letra particular ("You taste of potato chips in the morning / Your face has the Marlon Brando club calling") e concentra-se num final mediado pela impertinência das cordas.

Slideshow peca pela redundância e Sanssouci pela extrema simplicidade na composição, embora sejam duas músicas que põem à prova a magnífica voz de Wainwright. E as letras são, como sempre, qualquer coisa de extraordinário, remontando aos temas típicos: a família, a religião, a homossexualidade, o amor e o romance, tudo regadíssimo com um glamour muito próprio de quem vive para a extravagância de uma realidade alternativa. É neste sentido que a última faixa Release the Stars, entregue a uma nostalgia musical muito bem conseguida, fecha em grande um álbum que, apesar de não surpreender, não deixa de nos trazer bons momentos musicais.

Para os fãs, é imperdível. Para quem não conhece, aconselho vivamente a que peguem nos outros discos todos lá para trás… Straight to the point.



Título: Release the Stars

Artista/Compositor: Rufus Wainwright

Ano: 2007

quarta-feira, maio 16, 2007

Favourite Worst Nightmare

Numa convenção com não muitos precedentes, tornou-se ponto assente na critica musical mundial que o segundo álbum de uma banda seria a sua prova de fogo, especialmente se o primeiro tiver sido um sucesso. Assim se tem passado ao longo dos últimos anos, com a constante evocação desta regra. E 2007, longe de ser excepção, parece ter-se assumido como o ano internacional da consumação dessa legislação musical. Arcade Fire, Bloc Party ou, agora, os Arctic Monkeys, são bom exemplo disso, num ano onde nomes para citar nunca andarão em falta.

Posto isto, cimentada a importância do tão ansiado segundo cd, resta falar do caso dos Arctic Monkeys. Á partida, estava tudo mal. O segundo cd quer-se de consolidação, e a banda de Sheffield traz-nos um trabalho de continuação imberbe. Por norma, há um período relativamente longo de introspecção e maturação entre os dois trabalhos, e os Arctic Monkeys, depois de em 2006 lançarem o megalómano Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not, libertam já em Abril de 2007 este Favourite Worst Nightmare. Como seria de esperar com eles, deu certo.

Este segundo álbum desfaria mais do que meras dúvidas musicais. Aclamados, apesar de serem alheios a esse meio, como a face do fenómeno MySpace, era a altura de se afirmarem como banda de música, mais do que como porta-estandarte de um movimento e de um tipo de comunicação e linguagem. Essa afirmação está feita. Os Arctic Monkeys são uma banda. Não são aqueles tipos da Internet. São a banda que, depois de arrasar os tops ingleses e europeus, está de volta. Ser jovem, imberbe e irresponsável é o novo preto. Está na moda.

Falando de Favourite Worst Nightmare propriamente dito, essa juventude é, uma vez mais, a grande virtude. Músicas rápidas, alucinantes, simples, meia bola e força. Se antes as parecenças com Franz Ferdinand e com um tom mais Pop-Rock dançante eram fulcrais, aqui fica-se com a sensação de que a coisa ficou mais séria. Ou pelo menso mais pesada. Cheira aqui e ali a crescimento. Sentem-se uns pelos da barba a nascer em forma de música mais arranjada e composta. Não se aconselha. Façam a barba, mantenham-se jovens. Mantenham-nos jovens. Foi por isso que surgiram.

Outra virtude que não lhes pode ser negada é a originalidade do seu som. Reconhecer de imediato o seu som, tornou-se uma das suas grandes conquistas. Tal facto sugere ainda que a banda padecerá doutro síndrome tão comum numa banda com um grande primeiro trabalho. O de se recriar continuamente, num ciclo fechado sobre si próprio, nunca mais realmente criando nada de original. Espera-se que não. Pior ou melhor, por enquanto só se lhes pede uma coisa. Juventude. Músicas como ”Brianstorm”, “D is for Dangerous” ou “Balaclava” fazem acreditar que rejuvenescer é possível.

Título: Favourite Worst Nightmare
Autor: Arctic Monkeys
Nota: 7/10

domingo, maio 13, 2007

Myth Takes

A dança sempre foi um dos grandes impulsionadores da música. Não se leve, hoje, à letra. Não necessariamente dançar, mas a capacidade de fazer movimentar os corpos tornou-se essencial numa música. Freneticamente, numa pista de dança; com movimentos pendulares da cabeça, num concerto; ou, no mínimo exigível, um leve acenar acompanhado de um pé marca-passo, de headphones aos berros. Esta é a nova concepção de dança que temos e faz mover o mundo. Pelo menos o da música.

Interessa, assim, a composição como fonte de energia e vitalidade. E, com maior ou menor acervo, é o que tem acontecido. Neste largo mundo, em 2007, entram os !!!. O leitor mais atento reclamará de imediato que a banda não vem de agora, que já com Louden Up Now e com, por exemplo, a óptima versão de “Get Up!” de Nate Dogg tinham dado que falar. Com efeito. Mas é com o mais recente Myth Takes que se apresentam como uma banda madura, interessante e inovadora. Os !!! compilam as melhores influências e misturam uma parafernália de estilos, factor que, a priori, se poderia desenhar complicado. Mas eles fazem-no com destreza. E ritmo.

Pelo mundo da música dançante vão se imiscuindo os terrenos pós-punk, onde os Gang of Four são referência constante na crítica, os bailes Funk e o mundialmente omnipresente Rock. De novo, os !!! trazem algumas vozes femininas, mais maturidade e um punhado de boas músicas que se constroem num muito bom álbum. Assim se desenha, para já, um dos melhores trabalhos do ano. Tudo começa com “Myth Takes”, faixa homónima ao álbum, com ambientes de saloon americano melancólico. “All My Heroes are Weirdos” é reminescência de !!! de Louden Up Now, prova de que a banda de Brooklyn se recicla. Sonoramente ambientalistas.

“Must Be the Moon” é música em forma de vício, exercício electrizante de hipnose musical, onde o ritmo se imiscui com o subconsciente em forma de nódoa de gordura, de forma a não mais sair. “A New Name”, um das melhores músicas de Myth Takes, é fusão de vários ambientes e vivências, entre a pista de dança e o intimista, a pedir remistura para animar noites Electro. A piscar o olho a uma noite de pista de dança está também “Heart of Hearts”, música de forte presença feminina. Até ao fim do álbum, destaque ainda para “Break in Case of Anything”, a prova de que também de Pop se fez este mito. Por trás de cada mito, estará uma ponta de verdade. A verdade deste é que os !!! conseguiram um dos melhores trabalhos do ano. Quanto à parte do mito, da ficção e da lenda, descubra-a.

Título: Myth Takes
Autor: !!!

Nota: 8/10

sexta-feira, maio 11, 2007

Pequenos Crimes Conjugais




Pequenos Crimes Conjugais é uma peça de teatro, da autoria de Eric-Emmanuel Schmitt, que esteve em cena no Teatro Nacional D.Maria II no início do presente ano. Esta encenação contou com a interpretação de Paulo Pires e Margarida Marinho. A minha disponibilidade na altura não me permitiu trazer esta peça para o Espaço de Crítica Artística. No entanto, a peça está em reposição no Teatro Aberto sendo a motivação que faltava para uma nova crítica. Explicito que o texto que se segue decorre da encenação no Salão Nobre do Teatro Nacional D. Maria II que contou com a interpretação de Margarida Marinho e não de Rita Salema. As diferenças do espaço e das actrizes provocarão diferenças evidentes no resultado final.

Tudo começou com a entrada no Salão Nobre. A escolha desta sala-não-auditório tornou-se evidente. O prolongamento do cenário encarnado até às duas plateias laterais encaixava perfeitamente na nobreza do salão onde se destacavam dois candeeiros grandiosos. Schmitt, o anfitrião da visita àquela casa tão invulgar (praticamente todos os elementos cénicos eram encarnados, desde a poltrana até às centenas de livros expostos nas prateleiras) recebe-nos como se de uma visita guiada à sua casa se tratasse. Nós, os convidados, deixamo-nos envolver por todo aquele ambiente e seguimos o mestre de cerímonia para onde ele nos leva. Schmitt aproveita-se do facto e manipula-nos de uma forma irritante, tal é a facilidade com que admitimos uma mentira descarada como uma verdade inegável. O autor apresenta-nos um casal fragililizado que vive um dia importante: o regresso a casa de Jaime (Paulo Pires) depois de um inexplicável acidente. Jaime, amnésico, interpela Luísa (Margarida Marinho) com uma série de perguntas aparentemente inofensivas. A partir deste ponto Schmitt constrói os alicerces para uma demonstração de genialidade dramatúrgica pouco recorrente nos palcos portugueses. Sem querer escancarar onde se exprime a inteligência do autor, destaco mais uma vez o largo caminho que o mesmo nos obriga a percorrer que, tem tanto de “desnecessário” como de delicioso.

Sobre a primeira encenação do realizador José Fonseca e Costa não há muito mais a dizer. A ideia de criar uma sala invulgar num salão tão perfeito é mesmo de aplaudir. Todo aquele vermelho podia ter o efeito indesejado de repugnância no público mas tal não se verificou e, o risco corrido valeu muito a pena. Fora este rasgo, criador da tão esperada imagem cinematográfica, a encenação caracterizou-se por ser bastante eficaz, nomeadamente, na escolha dos dois actores. As personagens não são fáceis, não são exuberantes, vivem da constante mutação de sentimentos que o diálogo entre ambos desencadeia. Sem pretender cometer uma grande injustiça, parece-me que a interpretação de Rita Salema ficará aquém de Margarida Marinho (compromissos assumidos previamente não permitiram que a actriz continuasse a interpretar a personagem), nem que seja como consequência dos escassos 10 dias que Rita Salema dispôs para ensaiar. E como o desempenho de um actor vive da contracena e irradiação proveniente dos outros actores em cena, é de se esperar um Jaime algo diferente mas igualmente intrigante.

“Uma peça de teatro de Schmitt é sempre uma peça imperdível”. O conselho não é meu, pelo contrário, limitei-me a tomá-lo em consideração. Pequenos Crimes Conjugais não estará provavelmente ao nível de A Visita (também esta já encenada no Teatro Aberto, interpretada por João Perry e João Reis) mas como pretendo continuar a seguir o conselho, espero alargar o meu leque de conhecimento das criações do tão elogiado autor.

quinta-feira, maio 10, 2007

Ed Rec Vol. 2


A música electrónica francesa vive um período de grande agitação, suportado essencialmente pela actividade das editoras Ed Banger, Kitsuné e Institubes. Nomes como Para One, Kavinsky (este editado pela Record Makers), DJ Mehdi, Justice, SebastiAn, Uffie, Surkin, Busy P, TTC e Krazy Baldhead vêm rapidamente criando um movimento de renovação do “french touch” que parecia já circunscrito à segunda parte da década de 90. Ironicamente, num momento em que a última manifestação dos influentes Daft Punk, o angustiante Electroma, pode ser entendido como a “morte” do duo, há uma geração que mostra com descaro que lhes segue na esteira: a que vive sob o selo da Ed Banger.

O elemento mais sintomático - e menos surpreendente – da orientação estética da Ed Banger é o facto de esta ser gerida por Pedro Winter (Busy P), manager dos Daft Punk. Paradoxalmente, o catálogo da editora contém sonoridades tão distintas como as protagonizadas por Uffie, SebastiAn e Mr. Flash, pelo que a impressão que se instala em nós é a de estarmos na presença de uma plêiade de músicos com raízes díspares mas unidos sob o magistério da dupla que prepara a digressão Alive 2007. À parte isto, o que reina na segunda compilação da editora é a ausência de unidade.

No vídeo de apresentação deste Ed Rec Vol. 2 (dirigido por So Me), há uma frase que surge na capa do último vinil que explica a heterogeneidade da editora: “One of our leitmotivs here at Ed Banger is No Boundaries”. Há, contudo, algumas regras a cumprir: a música da Ed Banger tem de ser, no mínimo, dançável e, no máximo, tão agressiva que se aproxime do rave; ser instigadora de um tal hedonismo que não permita a alguém não se esgotar fisicamente numa festa da editora; e, finalmente, ser o mais vã e instantânea possível para que não haja mais metafísica que dançar. Verificados estes pressupostos, não há estilo ou nuance que não possa ser incorporado no catálogo da Ed Banger.

Pode-se dizer que os Stooges e os MC5 passeiam-se por aqui tanto quanto James Brown e os De La Soul. Que estilos como o disco, o rock e o hip-hop andam de mãos dadas nesta compilação. Há o hip-hop deslavado de Uffie em “Dismissed”, o electro industrial e obscuro de Krazy Baldhead em “Strings Of Death” e o disco musculado de Mr. Flash em “Disco Dynamite”. Quando numa compilação há de tudo, fica sempre algo para trás. Mas, para sorte da Ed Banger, a memória adere aos que ficam à frente, e o que deixará verdadeiro impacto nesta compilação é a força que os Justice, Busy P e SebastiAn emprestam ao cruzamento entre batidas house e guitarras fortemente distorcidas, em “Phantom", “Rainbowman” e “Greel”, bem acompanhados pelos ritmos infecciosos de DJ Mehdi, autor do surpreendente Lucky Boy, editado em 2006.

Depois de Lucky Boy, o próximo longa-duração a sair será o aguardado "†", primeiro álbum dos Justice, que cada vez mais se assumem como as estrelas desta constelação francesa. Busy P e SebastiAn também deverão lançar os seus primeiros álbuns. O sucesso futuro da Ed Banger dependerá muito do impacto destas edições mas, ao que parece, veio para ficar.

7/10

terça-feira, maio 08, 2007

Rewind #4 - Vale Abraão

Poucas vezes assentou tão bem em alguém o que de tantos se disse. Com Manoel de Oliveira, dificilmente haverá meio-termo. Ou se ama, ou se odeia. Onde uns verão planos repletos de uma poesia muito própria, outros julgarão o porquê de tamanha afeição pela ausência de movimento. Onde uns encaixarão a sensibilidade, outros tentarão, não poucas vezes, descobrir bons motivos para permanecer consciente. Onde uns deslindarão uma estética representativa original e identificativa, outros porão em causa a opção assumida de filmar uma peça de teatro. Já se percebeu de que lado da barricada se instaurou a crítica europeia. E o público português também.

Apresentado no Festival de Cannes de 1993, onde, pela Quinzena dos Realizadores, foi alvo de uma Menção Especial, Vale Abrãao é mais um filme da prolifera dupla Manoel de Oliveira – Agustina Bessa Luís. Baseado no romance da segunda, o multi aclamado realizador português filma a história da Bovary portuguesa e contemporânea, Ema Paiva. De realçar que a expressão bastante em voga “multi aclamado” não surge por falta de melhor caracterização. Não só Manoel de Oliveira o é de facto, como o próprio filme em questão marcou presença em inúmeros festivais, de onde se destaca a Mostra de São Paulo, o Festival de Cinema de Nova Iorque ou o Festival de Berlim.

De realçar ainda, já que a isto nos propusemos, a expressão “Bovary portuguesa e contemporânea”. Não tenhamos dúvidas de que tal se trata. Mas, mais do que sugeri-lo, Manoel de Oliveira (e Agustina, essencialmente) demonstram-no, quer através de sugestões várias, como a presença física do próprio livro, quer mesmo através do epíteto que a heroína arrecada da sociedade que a abraça. A Bovarinha. Vale Abraão conta-nos (e tenha em atenção o verbo contar, porque a história é-lhe literalmente recitada) o percurso de Ema, primeiro Cardeano, depois Cardeano Paiva.

Somos apresentados a uma Ema ainda juvenil, com traços da Lolita de Nabokov e Kubrick (mais a de Kubrick, confessemos), que vive, mimada e enclausuradamente, na casa de seu pai, Paulino Cardeano (Ruy de Carvalho). É nesta quinta, o Romesal, que Ema (Leonor Silveira) cresce, e é dela que nunca conseguirá sair, mesmo quando o faz. É nela que passa a infância que nunca terminou, que se sente senhora e segura, onde as criadas, de tanto respeito e admiração, são amigas íntimas. Daqui sai Ema, por casamento, com Carlos Paiva (Luís Miguel Cintra), um médico com tanto de absorto como de inerte, que de romantismo conhece pouco ou nada, e que da mulher conhece menos.

A história de Ema propriamente dita, tirando os seus romances e o final trágico, pouco mais terá de relevo. Como qualquer boa Madame Bovary que se preze. Fruto da sociedade claustrofóbica e tacanha que a rodeia, Ema vê-se refugiada na única arma que tem, a sua beleza. Incapaz de amar verdadeiramente, ainda que busque o amor, não se permite, no fundo, mais do que o mero prazer carnal ou a satisfação da presença de alguém. Até os seus romances são prova do seu desnorte. O dandy rico e charmoso, o camponês robusto e forte ou o jovem génio musical são os amantes, meio cardápio-cliché, que vai desfilando, aos olhos do marido apático e da sociedade alerta.

Para melhor compreensão, imagine tudo isto regado com a Sonata ao Luar, grandes planos de um Douro aldeão e uma slow motion sempre característica mas que, se nalguns casos enriquece, noutros nada mesmo. Incompreensível é a escolha de direcção de actores, já que teatral é o mínimo dos adjectivos que se poderão utilizar sobre algumas representações. A inexpressividade mistura-se com um programa de dicção para crianças num cocktail que a ninguém favorece, nem ao espectador, nem ao filme, e muito menos ao actor. O que realmente se tira desta versão documental do livro de Agustina é a excelente caracterização de uma vivência de aldeia, de um Portugal fechado sobre si mesmo e sobre uma cultura religiosa e mesquinha. Uma caracterização de um lugar (que por vezes parece um “não-lugar” sociológico) a meias com um modo de vida, que em nada deve aos melhores exemplos do género, como O Vale era Verde.

Título: Vale Abraão
Realizador: Manoel de Oliveira
Elenco: Leonor Silveira, Luís Miguel Cintra, Diogo Dória, Ruy de Carvalho, Luís Lima Barreto, José Pinto, Filipe Cochofel, Dalila Carmo, Sofia Alves, Glória de Matos, Isabel Ruth e João Perry.
Portugal, 1993.

Nota: 6/10

domingo, abril 29, 2007

The Pervert's Guide To Cinema


O Indie Lisboa trouxe-nos um filósofo que aparenta estar a meio caminho entre o excêntrico e o sério. Seguido por uma autêntica legião de fãs (especialmente no continente americano) que extravasa qualquer noção sensata da popularidade alcançável por um filósofo, Slavoj Zizek (lê-se Slavói Chichec) arranca o espectador da sua habitual passividade e procura, ao longo de mais de duas horas, levá-lo numa desafiadora viagem pelas intersecções do cinema com a psicanálise.

Importa realçar que o psicanalista esloveno se despe do jargão académico que à partida se lhe associaria como eminente filósofo, embarcando num registo que lhe permite intercalar alguns momentos em que expõe raciocínios conceptualmente apurados com outros em que mostra toda a sua comicidade. O que se mantém é a sua disponibilidade para o choque e para o inesperado, bem patente quer no desenvolvimento que dá ao tema do prazer sexual quer em apontamentos acessórios, como quando diz o que as tulipas lhe suscitam, num jardim que recria um cenário de Blue Velvet: “Basically it’s an open invitation to all the insects: ‘Please come and screw me.’”

O sexo é, de facto, um assunto que se espera ver tratado num filme com este enquadramento, mas o carismático Zizek sabe apresentá-lo com o entusiasmo próprio de quem percebe que há mais na teoria psicanalítica do que sexo. Do que fala ele então? Pode-se dizer, embora com algum risco, que Zizek consegue a proeza de abordar todos os aspectos que comummente se associam à psicologia. Conceitos como real, imaginário, consciente, inconsciente, desejo e fantasia fazem todos parte do vocabulário de Zizek, sendo que o seu grande esforço é tornar simples e acessível às massas a tradução da psicanálise lacaniana (da qual é discípulo). Para ele, o cinema é a arte que reúne as melhores características quando o objectivo é comunicar certas noções da psicologia: o cinema não só é uma mescla perfeita entre imagem, linguagem e som, como tem a virtude de pertencer à cultura popular.

Revisitando alguns ambientes e cenários famosos, Zizek aborda o espectador partindo de dentro dos filmes sobre os quais discorre, pelo que a presença dele avisa-nos para a verosimilhança de todo o cinema ou, opostamente, para a inverosimilhança da nossa vida – de qualquer das maneiras, Zizek tenta laboriosamente convencer-nos de que o espectador poderá ver em si próprio e na apreensão que tem do mundo exterior impressões que os filmes de David Lynch, Alfred Hitchcock e Charlie Chaplin apenas vagamente deixam em si.

Hitchcock é provavelmente, na opinião de Zizek, o mais freudiano de todos os realizadores, pelo que os seus filmes, especialmente o clássico Os Pássaros, são a verdadeira massa consistente que une todas as pontas soltas deste documentário. Mas há mais: Lynch vê o seu cinema normalmente tido por enigmático e misterioso à beira da desconstrução, Chaplin é arrancado (com toda a oportunidade) do simplismo que habitualmente lhe é diagnosticado e outros realizadores como Tarkovsky, Francis Ford Coppola, Kubrick e Eisenstein vêm alguma da sua arte devassada pelo poder oratório de Zizek.

O nosso guia é um apaixonado pelo cinema e pela psicanálise, mas contém a sua paixão até ao ponto intermédio em que não nos deixa compreender se ele nos apresenta uma mera interpretação à luz da sua formação, ou uma descodificação do que ele julga terem sido os verdadeiros objectivos de alguns realizadores na feitura dos seus filmes. Mas, na verdade, tudo isto roça a esterilidade se não se assistiu ao documentário.

“Cinema is the ultimate pervert art. It doesn't give you what you desire, it tells you how to desire."

Título:
The Pervert's Guide To Cinema
Realizador: Sophie Fiennes
Reino Unido, 2006.

sexta-feira, abril 27, 2007

Missão Solar

Ora vamos lá ver. Uma nave faz o seu percurso pelo espaço quando um intruso se faz presente e complica a missão, tentando matar os residentes da nave. Onde é que eu já vi isto? Ok, vamos tentar de outra forma então. Um grupo é destacado para salvar a humanidade de uma catástrofe emergente. Familiar? Não se trata de Alien, muito menos de Armageddon. Falamos de Missão Solar, o novo filme do britânico Danny Boyle que, com menos pompa que outros mas igual prejuízo, é mais um alvo dos péssimos tradutores de títulos portugueses.

Sejamos justos com Boyle e recapitulemos a sinopse. Num futuro próximo, a estrela que ilumina a Terra – que para os mais despistados é o Sol – está a apagar-se, e com ela a vida na Terra. Um grupo é enviado, na sequência de um primeiro grupo cujo destino se desconhece, para tentar reverter a situação, criando uma espécie de Big-Bang que recrie a formação de uma estrela e, como tal, reponha a vida, assim na Terra como no Céu.

A vantagem é que Boyle não esquece Alien e Armageddon, antes os cita e evita os seus erros. Bom contador de histórias como sempre se revelou (nunca esquecer Trainspotting), consegue fugir ao padrão básico de desenrolar dos acontecimentos. Opta por iniciar o nosso contacto com a nave Icarus II quando já passam 16 meses de viagem. Evitam-se assim os sentimentalismos desnecessários da despedida e entra-se de rompante num clima já conflituoso. A desvantagem de Missão Solar é, contudo, a mesma. Boyle não esquece que já existem Alien e Armageddon. E nós também não.

A questão que se tenta ainda introduzir no filme, porque Boyle não é menino de pegar num tema e deixar-se sossegado, é a dicotomia Fé/Ciência. Não bastava o filme ter uma toada eminentemente simbólica, como o indica o próprio nome da nave, é trazido à tona a questão existencialista por trás de tudo isto. Ainda bem, porque a Ficção Cientifica não se fez só para apreciar grandes planos do espaço. Há em Missão Solar as questões da proximidade cósmica, da solidão e da inevitabilidade. Fica uma não suficientemente profunda achega a Deus, ele próprio aqui revisitado constantemente sobre a forma de luz e vida, um ressuscitar que tem tanto de bíblico como de fenixiano.

Cillian Murphy, na pele de Capa, é o principal actor de serviço em torno do qual tudo parece girar, o sol do filme, nem de propósito. Ainda assim, e valha o esforço de Danny Boyle, não chega. Missão Solar raramente levanta as asas da prisão de apenas-mais-um-filme e quando o faz, qual Ícaro, queima-se, porque os temas que bem aborda exigiam outra consistência que o filme não soube ter.

Título: Missão Solar
Realizador: Danny Boyle
Elenco:Cillian Murphy, Rose Byrne, Cliff Curtis, Chris Evans, Troy Garity, Hiroyuki Sanada, Mark Strong, Benedict Wong, Michelle Yeoh
Reino Unido, 2007

Nota: 6/10

segunda-feira, abril 23, 2007

Vivo #4 - Buraka Som Sistema no Lux

Lisboa, noite de 20 de Abril, Lux. A noite começa calma e sem grande entusiasmo. O Lux vai enchendo aos poucos, muito poucos a principio, no principio de uma noite ainda fresca mas que viria a aquecer. Piso de baixo fechado à espera da hora ansiada, piso de cima averso a qualquer ponta de emoção. Por volta da uma da manhã, o espaço começa a compor-se, a fila de entrada a engrossar, mas tudo continua em banho-maria. A noite começa verdadeiramente quando, pouco antes das duas, alguém tem a boa ideia de passar, adivinharam, Buraka Som Sistema. Mais propriamente, a mais recente versão de “Dialectos de Ternura”. A noite começa nesse instante. Como que animados por uma força invasiva, os corpos dispertam para movimentos que segundos antes se julgavam impensáveis. Prenúncios de uma festa por acontecer.
From Buraca to the world.

Buraka Som Sistema tem vindo a habituar-nos a este crescendo em todos os campos. Por volta das duas horas, começa a tornar-se complicado respirar. É então a altura de abrir as portas ao andar de baixo, gesto que dá azo a um movimento apressado e generalizado, espécie de urbe histérica em período de saldos. Bem-vindos ao Inferno. E não, isto não é uma coisa má. Corpos demais em espaço de menos. É assim que devemos beber o Cocktail explosivo que se revela Buraka Som Sistema. Para perceber porquê um Cocktail, basta olhar à volta. É impossível encontrar um padrão. Aqui estão o residente habitual do Lux, o miúdo do secundário, o trintão convertido, o amante de boa música, o amante de Electrónica e o amante de Kuduro. Todos juntos. Mal o Dj de Buraka entra, todos os seus corpos se materializam numa dança contínua e sempre, sempre, próxima, em grande parte devido à falta de espaço.
Buraka entra, o som rebenta.

O resto, que é o que importa, foi aquilo que Buraka mais sabe fazer. A festa. Os puritanos do Kuduro Progressivo (se é que isto pode haver..), poderão, como por vezes fazem, clamar que isto não é o verdadeiro som que praticam. Os fãs da música da Electrónica mais arrojada poderão, e com razão, queixar-se da falta de arrojo da música de Buraka. Esta não é a música mais complexa, completa ou conexa que ouvimos e ouviremos no palco do Lux. Mas, perante a festa em que Buraka se torna, torna-se complicado pensar em qualquer destes pontos. Á técnica responde-se, em força, com o corpo. Com a agressividade. Com uma festa multiracial de constante comunicação com o corpo. Porque a falta de politicamente correcto é uma linguagem. E o Kuduro também. O Cocktail veio a demonstrar-se um shot, num concerto que durou pouco menos de duas horas, já com o encore que se pedia. Pelo meio, pessoas no palco, espectáculo visual em forma de dança e muita, muita, festa. Tanta que se perdoa o facto de terem tocado duas vezes a tão apetecível “Yah!”. No fundo, o que contou, foram os imensos corpos que se abanaram no espaço que não tinham.

Ai não…

domingo, abril 22, 2007

Vivo # 3 – Alexander Gavrylyuk & Orquestra Filarmónica da Eslováquia nos Dias da Música (C.C.B.)


Este ano, para surpresa de muitos melómanos que, como eu, ansiavam pelo decréscimo substancial do preço dos bilhetes para concertos de extraordinária qualidade, a Festa da Música do CCB viu-se reduzida a dois dias. Assim, a edição deste ano, sob o mesmo formato que as antecedentes Festas, dedicou-se inteiramente ao piano. Foram dois dias de concertos, dois dias de entradas para espaços alusivos ao instrumento rei da Música dita Clássica. Pelos auditórios e salas do Centro Cultural de Belém passaram nomes como Alexander Gavrylyuk, Artur Pizarro, Bernardo Sassetti, Jorge Moyano, Maria João Pires, Mário Laginha, Pascal Rogé, Uri Caine, orquestras de renome internacional, e solistas de instrumentos “primos” do piano, como o cravo (com Nicolau de Figueiredo) e a marimba (com Pedro Carneiro)..

À semelhança das edições anteriores, os repertórios destes artistas eram variados, embora a edição deste ano, uma vez que não era dedicada a um compositor ou a um período artístico específicos, conseguiu trazer ao público uma obra tocada mais vasta e abrangente, cobrindo algumas formas do barroco, passando pelos românticos e pelos modernos, com uma pequena paragem para a improvisação mais jazzística. Dia 21 de Abril, no grande auditório, Alexander Gavrylyuk ao piano, acompanhado pela Orquestra Filarmónica da Eslováquia dirigida por Olivieri-Monroe, trouxe-nos o magnífico Concerto para Piano e Orquestra no. 2 op. 18 em Dó Menor, do génio russo Sergei Rachmaninov (1873-1943).

De todas as formas musicais existentes na Música, o Concerto para Piano e Orquestra sempre foi olhada como uma fórmula quase divina, oscilando entre o duelo de titãs e a lírica complementação de duas “vozes” tão distintas. É certo que o piano oferece uma paleta interminável de sonoridades – tão bem explorada por Rachmaninov nos seus quatro concertos – e que a orquestra consegue manipular a musicalidade imensa a partir dos seus múltiplos instrumentos. No entanto, Rachmaninov atinge um patamar diferente quando escreve o Concerto no. 2: alcança aqui toda a genialidade que lhe faz justiça, expõe do modo mais lírico e mais bonito tudo aquilo que conseguia pôr em música, desenvolve, sem nunca esgotar, o piano em companhia da orquestra. Apesar de ter atingido o seu expoente máximo no Concerto no. 3 – bastante mais prepotente e tecnicamente dificílimo – é no no. 2 que lemos o Rachmaninov mais esteta, mais lírico, de mais bonita expressão. Uma obra magistral e perfeita.

Sobre Alexander Gavrylyuk, é necessário referir a impressionante técnica do pianista, assim como também é de notar a absolutamente arrebatadora leitura da partitura do compositor russo. Alexander Gavrylyuk é um virtuoso do piano, que brilhou ao longo dos quase trinta e sete minutos do Concerto, que se sagrou divino com as mãos nas teclas do instrumento mais magnânimo da noite. Olivieri-Monroe dirigiu uma Orquestra fluente e especialmente intensa, em especial no toque dos sopros no primeiro andamento, no brilho das cordas e dos fagotes no segundo andamento, e na segurança dos pizzicato e do crescendo no terceiro andamento. A prova de fogo de Gavrylyuk enquadra-se na mestria de Olivieri-Monroe à frente do gigante orquestral, funde-se na precisão expressiva por entre o domínio extremo do teclado.

Há quem diga que o melhor de um espectáculo são os encores. Depois de ser aplaudido com especial entusiasmo, Alexander Gavrylyuk não resistiu em oferecer-nos uma redução e variações para piano da célebre Marcha Nupcial do Sonho de Uma Noite de Verão do alemão Felix Mendelssohn-Bartholdy. Um toque final, bastante humorístico, que levou a audiência a irromper num aplauso ainda maior. Uma noite para celebrar, poder-se-ia dizer. Para muitos pianos e muitas orquestras.

sábado, abril 21, 2007

Amor, Escárnio e Maldizer

Mais do que em qualquer outra ocasião, apresentações dispensam-se. Amor, Escárnio e Maldizer é o sétimo trabalho dos multipremiados Da Weasel. Depois de Re-definições, a doninha está de volta com um álbum que promete manter os níveis quer de sucesso quer de influência. Quanto ao sucesso, as vendas no primeiro dia são bom cartão de visita para o que os espera. Quanto à influência, repita-se uma vez mais, para que não restem dúvidas. É dos Da Weasel que falamos.

Poder-se-à não gostar de Hip-Hop. Poder-se-à não gostar da música dos Da Weasel. Mas dificilmente poderá alguém ser levado a sério se não se der conta da importância dos mesmos. O Hip-Hop mainstream em Portugal tem um rosto, que vai mostrando diversas faces. Da mais agressiva e social à introspectiva e intimista. Não há medo da exposição, há necessidade de confrontação. Há sinceridade, sentimento, cultura underground lentamente tornada de massas. Como sempre disseram, eles dão-lhe com alma.

O sentimento é o de que crescemos com esta banda. Treinámos os nossos ouvidos nem sempre habituados a este espectáculo de ritmo e batida e fomos acompanhando, ao longo dos seus trabalhos, a sua maturação e a nossa. Felizmente, este ainda não é um grupo maduro. Tem as suas fraquezas. Músicas que empatam, dificuldade nalgumas situações em discernir o fundamental do acessório, letras que nem sempre mantém a toada geral de qualidade. Mas tem, esta imaturidade, uma grande vantagem. Mantêm-se um grupo à procura, sem medo do novo, audaz e propício à experiência, à variedade. Amor, Escárnio e Maldizer, pois claro. De tudo um pouco.

Desde Cinema que não se via algo assim. Desde que Rodrigo Leão se lembrou de juntar uma colectânea impressionante de convidados para o seu álbum em forma de banda sonora, que ninguém juntava tamanha amalgama de impar qualidade. José Luís Peixoto, Gato Fedorento, Bernardo Sassetti, Buraka Som Sistema, Maestro Rui Massena e Vikter Duplaix são participações que, de uma forma ou de outra, seja em remisturas, letras, arranjos ou skits, enriquecem o trabalho. Música Hip-Hop a puxar pelas massas, mãos no ar em concerto variado, numa orquestração de uma banda que caminha para o maduro em passos seguros. Referências à cultura popular um pouco ao estilo de Seth Cohen, mas sem a BD, ainda que Manara seja chamada ao barulho são pautadas com tiradas de sátira social, bem ao estilo da doninha.

“Toque-Toque” tem tempero brasileiro enquanto faz lembrar o início da banda. “Mundos Mudos” é versão intimista com participação de orquestra que encaixa bem em qualquer colectânea amorosa. Intimista também, mas porque o piano de Sassetti a isso o obriga, é “A Palavra”, bem ao estilo dos melhores cantautores. A realidade é palavra de ordem em “Negócios Estrangeiros”, na prova cabal de que é possível a convergência de influências culturais. Quanto a “Dialectos de Ternura”, se não gosta da música, aguente-se. Esta música é o verão que se avizinha.

Título: Amor, Escárnio e Maldizer
Autor: Da Weasel

Nota: 7/10

domingo, abril 15, 2007

Someone to Drive You Home


Kate Jackson, sensual mais do que o suficiente é a voz e o corpo, da banda constituída por três elas e dois eles. The Long Blondes apresentam, sem complexos e repletos de espontaneidade, o seu primeiro trabalho, Someone to Drive You Home. Onde mora a new wave feminina? Em Sheffield. É daí que provem este som refrescante, que vagueia entre o revivalista e o moderno, entre o next-big-thing assumido e disco para ouvir e reouvir, uma e outra e outra vez. Tudo, sempre, sem quaisquer pretensiosismos. “You’re only nineteen for God’s sake. You don’t need a boyfriend.”

The Long Blondes são uma mistura heterogénea entre Franz Ferdinand e Cansei de Ser Sexy. Dos primeiros pescam o som rockeiro, de refrão Pop, repleto de energia, a piscar o olho à pista de dança e ao agitar de corpos dentro de vestimentas retro-fashion. Das segundas, para além da feminilidade (onde, convenhamos, Kate Jackson ganha aos pontos), retiram o espírito. We want it fast, and we want it now. O que está mais na moda do que assumir um som descomprometido, que procura apenas a efemeridade de 3 minutos de uma boa música? O que é, agora, mais fashion do que o imediatismo assumido, a atitude de procurar apenas aquela boa música? Nada. Nada sabe melhor do que 4 minutos e alguns segundos numa pista de dança, num concerto, num carro com o volume ao máximo.

Someone to Drive You Home é mestre em canções Pop de encanto imediato, mas estranhamente persistente. Um fim de semana sem maquilhagem, a idade ou o amor são problemas que por aqui são debatidos, constantemente a alta velocidade. Nem Sartre, nem Nietzsche, nem metafísica que lhes valha, nem das mais modernas. Apenas mulheres ligeiramente mais velhas a falar para mulheres ligeiramente mais novas. É este o fascínio. “Once and Never Again” é exemplo claro da maturidade de todo este festival adolescente. Tudo sabe melhor quando é intencional. Fundo Punk-Rock e refrão inteligente, regado com o coro do resto das meninas dá num dos primeiros singles da banda.

“Giddy Stratospheres” traz versão mais adulta e “Weekend Without Make-up” é paradigma de tudo isto, versão de quatro minutos e onze segundos de como bem fazer um single de Pop, a permitir tanto pormenores interessantes como simples agitar de cabeça. Sem esquecer que o bom refrão Pop, canta-se. “Where do You go when you finish work. You Should have been home an hour ago.” E com estas linhas se coze um dos melhores albums do inicio de 2007. Consumam-no rápido, muito rápido. Não que o prazo passe, mas é assim que deve ser consumido. Bem agitado.

Título: Somone to Drive You Home
Autor: The Long Blondes

Nota: 7/10

sábado, abril 14, 2007

Life in Cartoon Motion

Há um subgénero muito claro dentro da música Pop. Nunca afirmado pelos próprios autores mas desavergonhada e categoricamente demonstrado pelos seus trabalhos. O género em causa é o de um álbum que sobrevive à custa de uma única música. Regra geral, esta será radiofónica ao máximo, tocará em todo o lado, inclusive na sua cabeça, de preferência até ao ponto de o fazer esquecer que há mais músicas no resto do cd. Life in Cartoon Motion, do anglo-libanês Mika é exemplo disso mesmo.

Se tem estado pelo planeta terra nos últimos tempos, com certeza já se deparou com “Grace Kelly”, hino Pop a puxar pelo bate-pé, de ritmo acelerado e variações vocais de grande nível. Com referências aos Queen e aos Scissor Sisters, passeando, como em todo o cd, por ambientes entre o infanto-juvenil e a Pop perfeitinha de produção exagerada, a verdade é que “Grace Kelly” cumpre a função. Com distinção.

Mas, infelizmente, Life in Cartoon Motion não se limita ao seu single principal. Há ainda “Lollipop”, mistura de comercial infantil, musical colorido e pedaços de essência Pop desgarrada. De seguida, “My Interpretation” arrepia na sua simplicidade bacoca e desprovida de sentido para além do natural seguimento Pop-Rock pisado e repisado. Mais para a frente, aparece-nos “Relax, Take it easy”, um poço de ar onde respirar. Finalmente, a voz de Mika encontra material mais sustentável que assegure mais que a mera exploração desse filão. Com um toque das “confissões” de Madonna, é o mesmo ambiente, mas desta vez a remeter para a pista de dança. Espaço então para uma Pop dançante, já que a criança se mostra mais madura.

Para além desta curta exploração do que é, sem qualquer dúvida, uma óptima voz, o álbum passa sem notas nem reparos, numa triste banalidade que a ninguém agrada nem favorece. Talvez quando Mika passar a idade dos cartoons possamos assistir a uma exploração Pop conveniente e consistente, já que parece ser aí que ela melhor se movimenta. Porque a voz dele merece. Como gente grande, para a próxima, então.

Título: Life in Cartoon Motion
Autor: Mika

Nota: 4/10

segunda-feira, abril 09, 2007

Playlist #5 - Electroma

Recuperando esta rubrica, trago-vos uma banda-sonora de um filme que analisarei muito brevemente (as músicas não estão na sequência correcta, mas antes na ordem que aparecem nos créditos finais).

International Feel - Todd Rundgren

In Dark Trees - Brian Eno

Billy Jack - Curtis Mayfield

Miserere - Gregorio Allegri

String Quarter In E Flat Major Op. 64, No. 6 - Joseph Haydn

No. 4 In E Minor [24 Preludes, Op. 28] - Fryderyk Chopin

If You Were My Man - Linda Perhacs

Dialogue - Jackson Carey Frank

Universe - Sebastian Tellier

Dúvida


Em cena no Teatro Maria Matos encontra-se a peça Dúvida, de John Patrick Shanley. Com encenação de Ana Luísa Guimarães, a peça galardoada com os prémios Pulitzer e Tony, conta com interpretação de Eunice Muñoz, Diogo Infante, Isabel Abreu e Lucília Raimundo. O Teatro Maria Matos volta a apresentar um espectáculo que se mostra consistente na sua linha de programas, um novo passo na criação de um espaço de reflexão, de exigência e de confronto. Como se pretende um Teatro.

Dúvida envolve-nos no contexto de uma igreja e respectiva escola da década de 60 no Bronx, em plena Nova Iorque. Sobre o Padre Flynn, a determinada altura, recairão as suspeita de assédio sobre uma criança, a primeira criança negra na instituição. A fonte destas suspeitas será a Madre Superiora Aloysius que consegue convencer a bem intencionada irmã James para a acompanhar na sua cruzada contra o mal, que na sua convicção, tem o rosto do Padre Flynn. Para ajudar, a mãe da criança, um estereótipo de elevada qualidade, é trazido à questão, numa interessante caracterização da sociedade americana da época.

O que Shanley nos traz é um muito aprazível conjunto de questões, de inegável actualidade e pertinência, numa peça bem estruturada e urdida. Pecará pela sua fluência nem sempre estreita e por um fim, mais do que previsível, insonso. Mas nada lhe retirará a capacidade máxima que, em última análise, é a função do Teatro. A de fazer pensar. E isso Shanley mostra dominar, trazendo à baila, de forma inteligente e nunca demasiado incomodativa, o pior de várias facetas da sociedade, em geral, e do clero, em particular. Dúvida fala-nos, numa primeira instância, de pedofilia. Não da sua parte mais óbvia e tão em voga, vendo a criança, mas pelos olhos de quem se apercebe. A inquietação da necessidade de agir perante a falta de provas que não a convicção. Todo este conflito de interesses ganhará especial interesse, e a isso não terá sido alheia a escolha da peça, quando vista à luz dos acontecimentos recentes que entupiram a imprensa nacional.

Mas Dúvida é ainda um pertinente alerta para outras questões. Uma figura de uma Igreja demasiado burocratizada e hierarquizada. Um clero masculinizado e inoperante. A força da dúvida por oposição à da certeza. A denúncia da pederastia no seio da Igreja. O poder do boato e a incapacidade de evitar as suas consequências. O peso das acções e a necessidade das mesmas. Estes são alguns dos muitos temas que vemos sendo dissecados ou meramente sugeridos na encenação de Ana Luísa Guimarães. Encenação que, apoiada por um maleável e poderoso cenário, se mostra acertada e tranquila, deixando o protagonismo, quando este é possível, para os actores.

Falar de actores nesta peça é falar de Diogo Infante, que se mostra, nesta primeira vez que sobe ao palco do Maria Matos desde que dele se encarregou, cada vez mais maduro e cada vez mais versátil. Vê-lo em Animal, de Roselyne Bosch, e vê-lo como Padre Flynn, é prova cabal disto mesmo. Quer a nível técnico (atente-se, na peça, na sua colocação de voz), quer a nível psicológico. É à volta de Diogo Infante que Dúvida gira, esteja, ou não, presente em palco. Suportando-o temos uma excelente Isabel Abreu (Laramie, Coisa Ruim, Dot.com) no papel de Irmã James e uma incompreensivelmente titubeante Eunice Muñoz no papel de Irmã Aloysius, numa interpretação sem chama nem de boa memória, que em nada faz jus aos galões que o seu nome ostentam.

O que fica desta Dúvida é a certeza de haver Teatro de referência em Portugal. A certeza da consolidação de um projecto, o Teatro Maria Matos, que em tudo revigora e revitaliza o género em Portugal, contribuindo, ainda, para uma chamada activa do público para as salas. Disso, não há dúvida.

Título: Dúvida
Autor: John Patrick Shanley
Encenação: Ana Luísa Guimarães
Elenco: Eunice Muñoz, Diogo Infante, Isabel Abreu e Lucília Raimundo.

domingo, abril 08, 2007

300


Baseado na banda-desenhada com o mesmo título, da autoria de Frank Miller, que por sua vez conta a resistência heroico-masoquista do rei espartano Leónidas e os seus trezentos homens face às hordas do Império Persa – mais sobrenaturais que humanas -, este 300 de Jack Snyder tem, diga-se, a decência de procurar efectivamente ser um decalque fílmico da sua fonte, apresentando as características mais comummente associadas ao género, todas elas acentuando o exagero e a fantasia. Quem de bom senso se interessar subitamente na Batalha de Termópilas de um ponto de vista intelectual e ansiando o máximo rigor histórico, decerto não considerará a referida BD uma fonte credível, mas quem se achar sentado na sala de cinema na expectativa de assistir a um retrato documental da batalha saberá o que é afinal um amargo de boca.

Para além das diatribes que se têm multiplicado (quase todas injuriando o realizador e a sua equipa pela grotesca animalização que fazem dos persas), importa perceber se, feita a proposta, vale a pena perder cerca de duas horas frente a uma hagiografia balofa dos heróis espartanos e seus temerosos aliados. E o que salta à vista é o absurdo processo de redução da psicologia verosímil dos homens - supostamente complexa – até se chegar a um resultado final em que não há indivíduos, mas homens que suportam o epíteto do seu povo: o que transparece dos espartanos é, pelo lado dos soldados, tudo o que não infrinja a sua intrépida condição de guerreiros patrióticos e sanguinários; os aliados arcadianos são, genericamente, receosos e desajeitados; e aos persas, enfim, foi dada a honra de ser não mais que uma paleta de criaturas vagamente humanas, ora demoníacas, ora irracionais, ora andróginas (veja-se o irreconhecível Rodrigo Santoro no papel de Xerxes I). Há, no entanto, uma inultrapassável comicidade nisto tudo se o espectador ousar não levar este filme a sério, quiçá a medida sensata a tomar caso se encontre de modo irreversível na sala.

Mesmo considerando que há uma nítida aposta no grafismo, de tal maneira que o filme pretende presumivelmente ser uma espécie de exibição de espectaculares sequências de acção, 300 não convence completamente como tour de force estético. Apresentando algumas semelhanças com Sin City (de que Frank Miller também é, a propósito, autor), 300 vive perdido entre a infantilidade da sua narrativa, a vacuidade psicológica das suas personagens e a sua violência gráfica. Removendo as cenas mais sangrentas – especialmente aquelas em que o sangue, assim que espirrado, parece coagular em pleno ar -, fica-se com um épico aprazível às crianças. Para os menos pueris haverá certamente trezentas outras escolhas mais frutuosas que assistir ao polémico 300.

Título:
300
Realizador:
Jack Snyder
Elenco:
Gerard Butler, Lena Headay, David Wenham, Dominic West, Vincent Regan, Michael Fassbender, Rodrigo Santoro, Andrew Tiernan, Andrew Pleavin, Tim Connolly, Marie-Julie Rivest, Tyler Max Neitzel e Tyrone Benskin.
E.U.A., 2006.

sexta-feira, abril 06, 2007

The Temple Bell

“É um facto que muitas bandas recorrem ao inglês para disfarçarem um vazio de ideias, mas cada caso é um caso, não se pode generalizar. Atente-se ao trabalho de artistas como o Old Jerusalem, por exemplo. É bem visível que aquilo é feito de forma genuína.”
The Weatherman em entrevista ao Espaço de Crítica Artística

Por esta altura, o nome de Old Jerusalem dispensará já as costumeiras apresentações. Ainda assim, porque as formalidades assim o obrigam, digamos que é do projecto de Francisco Silva de que falamos. Diga-se ainda que se trata do terceiro álbum, que dá pelo nome de The Temple Bell e que sucede os belíssimos April e Twice the Humbling sun. Eram dispensáveis estas apresentações tão somente porque Francisco Silva, sob o nome de Old Jerusalem, se tem vindo a afirmar como um dos mais importantes, e distintamente originais, cantautores portugueses. E, senão o melhor, dos melhores a fazê-lo em inglês. Sobre ele, a propósito deste novo trabalho, escreveu Pedro Mexia, escritor que, num segundo a propósito, está prestes a lançar 2 livros:

A melancolia da anatomia. Quem reconhece em «Old Jerusalem» o título de uma canção de Will Oldham imediatamente imagina uma genealogia de melancólicos americanos (essa que inclui Bill Callahan, Damien Jurado, os Mountain Goats e outros). Francisco Silva, o mentor deste grupo de geografia variável chamado Old Jerusalem, nunca escondeu as suas influências e afinidades.”

Este é um trabalho de consolidação. Onde se percorrem tema recorrentes, mas salutarmente revistos, da escrita do músico. Onde se estabelece um padrão, onde se desenha uma coesão na sua carreira. Há um grande cantautor neste economista de profissão. As melodias simples dos seus acordes casam-se com as melodias melancólicas das suas belas letras. Há aqui uma vastidão de sentimentos que exalam de The Temple Bell e invadem quem por lá se aventure. Há melancolia e há vastidão. Mas há, acima de tudo, a sensação de sermos convidados para sua casa, para um recanto intimo e pessoal, de estarmos a espreitar por uma frincha na porta. Old Jerusalém é este sentimento de pertença à sua vida através da sua música. Onde as distâncias entre a pessoalidade do musico e a do ouvinte se fundem, mantendo, ao mesmo tempo, a reserva necessária. Confuso? Não se admire se se encontrar a divagar. Faz parte da magia.

Portugal sempre foi um terreno fértil para os cantautores. Dos reformistas aos intimistas, dos lutadores aos reservados. Este não é mais um. É Old Jerusalem.

Título: The Temple Bell
Autor: Old Jerusalém

Nota: 7/10

quarta-feira, abril 04, 2007

O Caimão

Polémicas à parte, este é claramente um dos melhores filmes actualmente em cena em Portugal. Contabilizando todos os êxtases e revezes, lá chegaremos, resta um filme politico e humano, combinação à partida difícil, que não se abstém, ainda assim, de reter uma visão tragicómica e retratista de uma Itália em descalabro. Parece-lhe demasiado? Trata-se de O Caimão. Do melhor Nanni Moretti.

À resposta de como abordar Berlusconi cinematograficamente, Moretti foge ao óbvio. Foge ao retrato puro e duro, mas inclui-o. Foge ao documentário Mooriano incisivo mas extremista, mas a extremidade da sua posição permanece. Agarra, ao invés de pegar o touro de cornos, na Itália que Berlusconi moldou. A “Italiazinha”, como lhe chama um produtor polaco no filme. Uma Itália minorizada, interna e externamente, por uma governação do mais prosaicamente mafioso. Centralização do poder, utilização abusiva dos media e enriquecimento de mãos dadas com ilegalidades. Nada que nós não percebamos.

Já bastava esta faceta a O Caimão para se revelar um bom filme. Tal não seria suficiente para Moretti, o realizador de O Quarto do Filho ou Querido Diário. Este é, a propósito, um Moretti fora do esperado. Mais vivo, mais ousado, mais atrevido. Atrevimento este que vai bem para além do tema polémico que aborda. Mas onde parece ter sucedido, a julgar pelas eleições italianas, 17 dias depois da estreia do filme em Itália.

Dizia-se, há mais no filme do que o retrato de uma Itália Berlusconiana. Há ainda uma critica, pelo ridículo, ao cinema italiano actual. Uma produção a olhar para o umbigo, um realizador que começa um filme sem ler o guião por completo ou actores que desistem subitamente de projectos são parte integrante da toada mais ridicularizante de O Caimão.

No melhor pano cai a nódoa, como sempre. Moretti tem em O Caimão, cinematograficamente, uma faca de dois gumes. Por um lado, um filme completo e complexo que aborda uma Itália humana mas desumanizada por uma ditadura mascara. Por outro, um filme a querer por vezes mais do que pode. Um filme onde se abordam relações pessoais, problemas políticos, criticas cinéfilas, divórcios, a identidade da meia idade ou caracterizações nacionais. É obra. Mas é uma boa obra, em parte porque o filme nunca pesa, mistura tudo o mencionado com momentos trágicos e momentos de grande humor, que em grande parte se devem ao brilhante Sílvio Orlando, a personagem principal do filme (excluindo Berlusconi, obviamente).

Seja pela parte politica, seja por Moretti, seja por Sílvio Orlando, seja pelo humor, seja pela Itália, seja, apenas, porque se trata de um filme belíssimo. Não se permita não ver O Caimão.
Título: O Caimão
Realizador: Nanni Moretti
Elenco: Silvio Orlando, Margherita Buy, Jasmine Trinca, Michele Placido, Nanni Moretti e Giuliano Montaldo.
Itália, França. 2006
Nota: 8/10